sexta-feira, 16 de outubro de 2009

LIVRO "NEM CÉU NEM INFERNO" PARTE 8

Demorei um pouco pra perceber que realmente não estava caindo mais. Estava tão acostumado àquela sensação de frescor no estômago.
Quando olhei para os lados, fiquei surpreso com o novo ambiente em que estava, algo parecido com uma estação de metrô, a mais moderna que já havia visto. Algo fora da imaginação dos mais criativos.
As máquinas onde as pessoas embarcavam eram tão vanguardistas que não ousaria chamá-las de metrô, trem ou algo similar. Tudo era tão sincronizado que parecia que a qualquer momento se alguma coisa saísse fora do lugar haveria um grande colapso.
-Olá, Vitor! Alguém exclamou ao tocar no meu ombro. Então eu me virei:
-Sa...Sa...Sabri...mas...eu...mate..vo..
E de repente, aquela que parecia ser a minha memorável e belíssima amiga, se transformou em um ser repulsivo, com cabelos longos e negros, a pele tão branca quanto a neve, e em sua face, nada de olhos, sobrancelhas, boca ou qualquer traço que pudesse expressar alguma emoção. O corpo era fino como um graveto, de baixa estatura, poderia confundi-lo com um gnomo, porém sentia a sua áurea negra que os gnomos, eu acredito não possuírem. Era, de fato, outro demônio
-Vitor! Mas é um fedelho, vejam só, será que não confundiram. Você é o Vitor?
Com toda essa frustração em me ver, vinha um senhor de pele vermelha, olhos azuis, corpo robusto, parecendo ser um admirável degustador de alimentos variados e em grandes quantidades.
-Sim, sou Vitor, e você quem é?
-Olha, como ousa me perguntar alguma coisa, pelo jeito não te disseram como as coisas funcionam por aqui, eu quem faço as perguntas, mas gosto de sua ousadia e vou me apresentar. Me chamo Cérbero e sou eu quem faz as coisas funcionarem por aqui.
A coisa-gnomo deu um tapa na pança de Cérbero e ele riu:
-Mas é claro, me desculpe, esse aqui é Morfeus. Ele não tem identidade própria, por isso assume qualquer forma. Desde um inofensivo passarinho até um assustador porteiro do inferno como eu.
Ao dizer isso, o, então, Morfeus, se transformou no Cérbero e assim, pude vê-lo sorrir, com aparente orgulho de sua bem-sucedida mutação. Ao mesmo tempo, o Cérbero verdadeiro olhava para Morfeus-Cérbero, como se visse nele o ser mais belo já criado. Seus olhos se encheram de lágrima e ele soltou um pum e sorriu. Como se fosse uma forma de demonstrar sua imensa satisfação.
-A argo está partindo, não acredito que vou ter que repetir isso novamente. Tudo culpa sua Morfeus. “RATIONE TEMPORIS”(em razão do tempo)
O tempo subitamente parou. Ao olhar para os lados, notei que somente eu, Morfeus e Cérbero estávamos nos movendo, e também percebi que quase todas as “pessoas” ali eram espectros, assim como eu, tão transparente quanto eu.
-Leve-o Morfeus. Antes que o tempo volte a correr. Argo número “665”. Adeus garoto. Prazer em conhecê-lo.
Cérbero cuspiu na mão e passou em minha cabeça, algo que não questionei. E Morfeus, devolta à sua forma original, começou a correr em direção àquelas máquinas, que por dedução, percebi que se chamavam argos. Tentei acompanhá-lo, mas ele era rápido como uma ratazana. Então eu ouvi um grito distante:
-MorfeuSSSSS!!!! Carregue o garoto!
Era Cérbero, sendo gentil, como sempre, ao perceber, mesmo de longe, a minha incapacidade em seguir Morfeus.
A criatura então parou de correr e se agachou como se oferecesse o seu dorso para eu me assentar. E assim o fiz, sem indagar. Morfeus se ergueu e começou a correr incansavelmente até a plataforma de embarque, tive que me segurar em seu pescoço para não cair. Quando chegou à plataforma, Morfeus tomou impulso e passou a saltar sobre as argos, quase me levando ao chão. E enfim, pude ver o número da minha argo “665”, que já estava um pouco longe da plataforma e terrivelmente lotada, restando apenas um lugar, para o qual eu me direcionei, após descer das costas de Morfeus e me despedir com um abraço incrivelmente frio. Ao me sentar, o tempo voltou a passar e Morfeus partiu saltando por sobre as argos.

(Estou me dedicando incrivelmente à esse livro, portanto, não voltarei a escrever "Môtu" ou "Auto-Suficiente" tão logo).

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