quarta-feira, 29 de julho de 2009

LIVRO "NEM CÉU, NEM INFERNO" Parte 2

“Coletando o necessário”

Talvez eu devesse desistir da idéia de sumir assim, de repente. Eu deveria levar a minha amiga comigo, pelo menos. Mas acho que ela não acreditaria que desse certo. Duvido que se eu jogasse o livro de novo na porta, ele grudaria. Impossível. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Dispus-me a ir sozinho coletar os ingredientes. Puxei a notinha com os ingredientes anotados do bolso da calça e comecei a caça ao tesouro.
Decidi coletar primeiro os fios de cabelo, depois as aranhas e então a lágrima. Na escola tem tanta gente que parecia uma tarefa extremamente fácil coletar esses fios de cabelo. Hoje em dia com a alimentação das pessoas, os fios de cabelo não têm mais aquela resistência. Eles caem o tempo todo. Mas não foi tão fácil assim.
Depois de roubar uma boa quantidade de cabelo de uma criança irritante do primário, coletei os da minha cabeça, pois eu me encaixo no perfil do jovem. Para coletar o cabelo de um adulto eu tive que elogiar o penteado do meu professor de educação física, disse que o penteado estava muito bonito apesar do fio branco que reluzia com a luz do sol. Ele quase enlouqueceu tamanha a sua vaidade. Ofereci-me pra retirar o fio branco, que na verdade não existia, e ele com um sinal de positivo me permitiu coletar o penúltimo fio de cabelo. Eu puxei com tanta força que saiu mais do que o previsto, muito mais. Os alunos começaram a rir da falha no couro cabeludo do professor e acabei indo parar na direção. Isso só facilitou o meu trabalho. A vítima seria a diretora. Ela é bem velha. Acredito que não acharia melhor candidata em tão pouco tempo. Depois de ser questionado sobre a atitude de quase esfacelar o couro cabeludo do professor, eu me fiz de vítima e comecei a chorar, pedi um abraço para a diretora, que muito cheia de afago veio e me deu o abraço. Coitada. Guardei toda a minha emoção de capturar o último fio de cabelo e liberei aquela energia bloqueada em mim no momento em que retirei parte da cabeleira da diretora. Expulsão por agressão.

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