quarta-feira, 29 de julho de 2009

LIVRO "NEM CÉU, NEM INFERNO"

Eu não aguentava mais aquela encheção de saco e, resolvi tomar medidas drásticas. Corri até a biblioteca e fui até a seção “Ocultismo”. Eu sabia que aquilo ia funcionar, mas não da maneira como ocorreu. Fisguei o livro mais velho no alto da prateleira, o que quase me rende um tombo. Usei o último espaço vago no cartão da biblioteca, o terceiro, para pegá-lo.
Sentei no terceiro vaso do banheiro masculino e tranquei a porta. Abri o livro. Senti um grande calafrio, afinal você sabe o que dizem sobre magia e essas coisas. Atravessei meus medos e comecei a procurar algo interessante no índice.
“Introdução à magia”, não tenho tempo. “Comprando seu arsenal”, talvez mais tarde. “Grandes personalidades da magia negra”, não me interessa. Isso. A seção de “Magia Caseira – Faça você mesmo”. Agora o tópico. Magia para o amor, nem pensar. Sorte. Dinheiro. Nada disso. Um monte de baboseiras afinal. Fiquei irritado e joguei o livro na porta. Ele grudou na porta. Não sei como aconteceu, mas sei que o calafrio voltou imediatamente. De repente, um pequeno pedaço de papel começa a deslizar para fora do livro, como se algo estivesse sendo impresso. E, por fim, caiu no chão. Relutei um pouco, afinal você sabe o que dizem sobre magia e essas coisas, mas acabei pegando o papel. Nele dizia: “Magias Negras Proibidas”. O calafrio no meu corpo era tão intenso que já ganhava efeito quase anestésico. Abaixo do título seguiam três subtítulos: “Morte”, “Vida” e “Sumiço”. Achei. Finalmente. Tudo que eu precisava estava ali. Foi como um pedido de desculpas do livro por ter me feito perder tempo.
Li num piscar de olhos. O que me interessava era o que estava escrito no “Sumiço”. Queria finalmente sumir daquela escola. Da minha casa. Dar um tempo da minha vidinha monótona. Livrar-me daqueles alunos que insistem em me por apelidos e aquelas professoras que me perseguem, como um predador à sua presa. Livrar-me do meu pai alcoólatra, da minha mãe drogada e do meu irmão bandido. Aquela vida não me pertencia. Eu queria sumir pra sempre. Se possível trocar de lugar com alguém. Qualquer um.
No final do texto estavam as palavras mágicas e os ingredientes para se realizar a magia do “Sumiço”. As palavras eram alguma coisa em latim que não consegui decifrar. Os ingredientes eram: uma lágrima sincera, seis fios de cabelo de uma criança, de um jovem, de um adulto, de um velho e três aranhas gorduchas e selvagens. A melhor parte: eu sofro de aracnofobia.

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