sábado, 23 de junho de 2012

NEM CÉU NEM INFERNO - PARTE 18

Olhei ao redor e, vi que todos estavam perplexos com o que acabaram de ver. Inclusive, a velha.
-Eu não posso crer, então é, verdade! Cospe menino, cospe, eu sei que você...
Eu permaneci estático, enquanto algo muito extraordinariamente asqueroso acontecia. O coração começou a tomar uma forma humana e fazer um barulho ensurdecedor, como aquele que ouvíamos no estômago de Môtu.
-Não pode ser! Cospe menino, antes que...Cospe! - A velha me deu um tapa na nuca e eu fiquei zonzo. Caí feito pedra, mas ainda enxergava o que estava acontecendo.
-Eu vou ter que fazer! Mas o Aleis...deixa pra lá, é a única saída! - Ela pôs o dedo na garganta e, em poucos segundos, vomitou uma enorme serpente albina dos olhos vermelhos - Coma, ande, coma aquele coração!
A serpente fitou o coração pulsando e foi então que eu ouvi o coração gritando a mim:
-Me salve! Me salve!
Era Sabrina, era sua voz. Uma força estranha tomou conta de mim. Eu me levantei rapidamente, e sem saber exatamente o que fazer, saltei em direção a cobra e agarrei a sua calda com a minha mão esquerda. Ao tocá-la, a cobra virou cinzas.
-Mas o que essa garota fez... - Antes que a velha pudesse continuar, Sabrina enfim tomou forma e vida. Nos entreolhamos e, era como se olhássemos num espelho, pois estávamos com o mesmo corpo, ou quase.
-Obrigada!
-Mas, eu mate...
-Você devolveu! Obrigada!
Nada me varria de qualquer lugar tão eficazmente quanto o olhar dela. Era como se eu pertencesse à ela! Como se ela fosse onde eu deveria estar! Ela era minha casa. Minha completude! Quando ela me olhava, tudo ao redor parecia sem vida! Ela sempre me assassinou, com seu olhar!
-Sinto muito, mas você não pertence aqui. - Sabrina parecia cantar essa fala confusa, eu não entendia, afinal, o que ela queria dizer com isso, pois agora eu me sentia em casa. Tudo estava lá, inclusive a sua presença.
-VENTRISH! - ela sussurou no meu ouvido.
O meu corpo reagiu de forma autônoma, comecei a me debater no chão e tudo que eu podia fazer era manter meus olhos fixos no olhar tristonho e encantador dela. Minha boca começou a fumegar e meus ossos estalarem.
-Ela está virando um garoto! - resmungou a gorda.
Percebi, então, que eu estava tomando a minha forma natural. Sabrina estava me deixando mais uma vez.
-Volta, por favor!
Essas foram as últimas palavras dela, antes de eu me sentir sugado por um clarão. Quando despertei daquela vertigem, olhei ao redor e tudo que via era um lugar tomado por homens extremamente altos, todos vestindo túnicas irritantemente brancas, um céu assustadoramente azul no horizonte mais infinito que eu já havia contemplado. Tudo era silêncio. Mas não era vazio. Era silêncio, mas era completo. Tudo parecia estranhamente perfeito. Eu me sentia tão sujo quanto um mendigo há dias sem banhar-se. Eu parecia um ponto negro num universo alvo. Um dos homens vinha do alto, e suas asas eram sublimes. Pude contar e, eram sete.
-Bem-vindo irmão! - o homem gigante com sua voz suave e tenra me acolhia.

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