segunda-feira, 1 de março de 2010

LIVRO "NEM CÉU NEM INFERNO" PARTE 12

Após retirar uma grande porção de terra com extremo esforço, pude notar a presença de um cadáver. Quem jazia ali? Era o que eu me perguntava. A resposta veio logo em seguida.
Os cabelos brilhavam ainda, apesar da ausência de vida naquele corpo. Era a defunta mais bela que eu já havia visto. Sabrina. Por um momento delirei com a presença dela ali, como se preenchesse uma lacuna criada pela falta de pessoas com quem eu pudesse me relacionar tão bem como com ela, no recente passado. Puro delírio, afinal ela estava morta, e quando notei o óbvio, me irritei com aquela situação.
Uma vez ouvi falar que o pecado bate à porta. No meu caso, ele entrou sem permissão e passou a viver comigo. Não aguentava mais esse ritual piegas. Gritei para o alto, aceitando e confessando o meu pecado (EU A MATEI!). Era um fato. Cansado de me arrepender tantas vezes, minha vida era um “saco”, ela não merecia tal morte, eu sei, mas eu faria tudo de novo. Sou egoísta como todo ser humano. Quero o meu bem. Não confio em ninguém. A morte dela foi um pequeno borrão numa bela pintura que eu começara. A partir dali, minha obra de vida seria bela. Mais bela que a própria Sabrina.
Arrastei aquele corpo enfadonho por uma distância a qual não havia reparado percorrer. Ainda bem que aquele cadáver não falava, ou eu o faria calar. Queria mesmo é acabar com aquilo tudo, e dar o destino que fosse. Aposto que ela estava vivendo uma boa vida, lá onde eles chamam, de paraíso. E eu ali naquele, literal, inferno. Talvez se ela tivesse vivido mais, perderia a chance da salvação de sua alma. O corpo jazia ali, mas creio sua alma perambulava pelo céu. Agradecer-me era o mínimo que ela, de forma justa, deveria fazer, ou ter feito.
Assim que estacionei com o peso morto, Sabrina, em frente à arvore, minha reação automática foi a de alívio. Cria eu que aquele era o fim do ecúleo. Engano meu.
-Sente e aguarde. Num tom, pouco simpático, ordenou a minha ação.
Como eu nunca havia visto uma árvore que falava, duvidava que se alguém a visse, não faria o que ela pedisse. Então, sentei.
O tempo passou, tão rápido como qualquer conclusão que tentava idear. De todas as possabilidades, só restava uma, mais razoável. A árvore comeria o corpo de Sabrina. E com certeza, assim, eu teria a permissão para ir embora dali. Eu sabia que era tudo um teste. Já conseguia até rir da situação, imaginando o momento em que contaria toda a aventura para meus avós, é claro, pois, como eu disse anteriormente, a morte dos meus pais seria inevitável assim que nos encontrássemos.
-Se levantem. Exclamou de forma imperativa e, no plural, porquanto eu não percebera o retorno de todos ao mesmo local, com seus respectivos defuntos.
-Gostaria de dizer que todas as suas deduções estão erradas, primeiramente. Todos vocês, obviamente, imaginaram inúmeras coisas. O fato é, esses cadáveres foram reunidos aqui, pois, esses serão os seus novos corpos. Para morar na Terra Vermelha, suas almas serão seladas nos corpos que vocês recolheram.
No momento em que ela disse: “Serão seus novos corpos”, garanto, já pensava em dar meia-volta, e talvez ficar perambulando por ali, procurando um meio de retornar. Algo que eu descartei assim que uma jovem, a três cadáveres de distância, se manifestou, rejeitando tal ordem, e por conseguinte foi consumida por uma das Valquírias que sobrevoavam o terreno.
-Alguém mais? Com um ar jocoso, questionou a árvore.
Ingênuo seria quem ousaria responder que, sim. Talvez fosse mais fácil ser engolido por uma aberração do que dar a sua vida a quem você matou. Eu deveria ter feito isso. Mas, faltou me raciocínio, e uma pitada de coragem.
Após a indagação da árvore pairar no ar, sem nenhuma resposta, sinalizando, então, uma concordância em comum, as Valquírias, após um assovio longo e irritante da árvore, elas desceram todas em um voo rasante e empurraram cada um de nós sobre os cadáveres à nossa frente, fazendo com que caíssemos contra eles, e, instantaneamente, nos fundíssemos aos tais.
-Divirtam-se! Com uma sensação de adeus, aconselhou a árvore, fechando sua boca, e levando dentro de si as aberrações.
Assim que dei a primeira piscadela, pude sentir de novo a sensação de estar vivo. Era algo refrescante. Tive vontade de gritar, pular. Uma alegria tomou conta da minha alma e, agora também, do meu corpo. Senti uma vontade descomunal em me tocar e, explorando meu novo corpo, despertei novamente para o pesadelo ao que fora empurrado. Agora eu era um menino num corpo de menina.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oiee Hugo ...
Ganhou um Seguidor ...

Tudo Biem?
Te add no Orkut.

Passarei com calma, para entender as postagens .

Um abção;