LIVRO "NEM CÉU NEM INFERNO" PARTE 5

Fiquei absorto por um longo período, sem ao menos mover meus olhos. Cada vez que pensava no que ele disse, mais a tristeza invadia meu coração. Tudo porque a única pessoa que eu amava nesse mundo era a Sabrina. Minha melhor amiga.
Depois de ficar um mês no sítio eu acabei retornando para a minha cidade e para a minha casa. Meus pais não haviam sequer feito minha matrícula em outra escola. Ainda bem. Eu tinha tanta coisa pra pensar e resolver que não tinha tempo, nem disposição pra ir à escola.
Os dias foram passando até que alguém me ligou. Era a Sabrina. Ela sabia que eu tinha sido expulso e tinha ido pro sítio. Ligou pra saber como eu estava.
-Então, abriu um cinema novo na cidade e está todo mundo indo lá. Que tal a gente ir também?
-Não sei Sabrina. Estou tão cansado ultimamente. Que filme está passando?
-Aquele que você está louco pra assistir faz um ano?
-“Entre o céu e o inferno”?
-Esse mesmo!
-Não acredito!
-Vamos Vitor. Vai ser legal.
-Está bem. Eu aceito. Te pego às 8.
-Tá. Beijo amigo. Tchau.
-Beijo.
Fiquei tão feliz com a idéia de ver o filme, o qual eu estava esperando pra assistir fazia um bom tempo, que acabei esquecendo que teria que matar a Sabrina.
Chegamos ao cinema e tinha muita gente. Sabrina estava linda como sempre e chamou muito a atenção. Não sei por que ela era minha amiga. Eu sempre fui o esculacho da turma. Ninguém ousava conversar comigo, exceto a Sabrina. Ela sempre foi atenciosa comigo e ouvia-me falar de tecnologias, filmes e games como se estivesse entendendo tudo.
No caminho de volta, Sabrina falava do filme com tanto entusiasmo que eu aproveitei a distração dela para cravar no seu peito uma faca de cozinha. Ela gemeu com o golpe. Enquanto seu sangue escorria pelo corpo, ela gemia, e me olhava com um profundo desespero e frustração. Um misto de piedade e ódio tomou conta de mim e sem saber explicar ao certo o motivo eu comecei a perfurá-la por todo o corpo e, assim, comecei a sentir uma espécie de prazer ao vê-la quase clamando misericórdia e aos poucos morrendo. Senti-me no controle da situação. Quanto mais eu a perfurava, mais eu sugava o que restava de vida nela. Seus olhos tremiam, e fitavam o nada, como se houvesse perdido a noção de visão, e sua boca exclamava sons de dor extrema. A faca já parecia não surtir mais efeito ou talvez não restassem lugares a serem perfurados e, assim, decidi me lambuzar com todo aquele sangue de Sabrina que pintavam seu corpo e o asfalto de vermelho vivo. Com as mãos eu tentava alargar cada buraco que eu havia feito na sua carne, isso parecia causar a dor mais profunda de todas, Sabrina estava prestes a morrer com aquela sessão de masoquismo.
-Eu o amo.
E após pronunciar essa frase que surtiu o efeito esperado, e despertou os três infortúnios, Sabrina se foi. Para algum lugar, que eu de fato desconhecia. Fiz o melhor que pude.
Mais tarde descobri que fui possuído por um demônio, amigo de Metacarfo, assim que eu dei a primeira facada e só tomei consciência assim que Sabrina declarou seu amor por mim, despertando assim a saudade, o ódio e a infelicidade. Metacarfo surgiu assim que Sabrina deu o último suspiro.
-Muito bem. Agora vejo que está pronto para adentrar a Terra Vermelha.
-É. Talvez.
-Precisa de mais algum tempo?
-Não, não. Acho que já estou farto o bastante de ficar nesse lugar. Pode me levar.
-Então que assim se suceda. Invoco as forças que regem a escuridão desse mundo para levar esse garoto ao mais temido de todos os lugares depois do inferno, à Terra Vermelha.
Meus olhos dobraram de tamanho assim que ele descreveu o lugar como o mais temido depois do inferno, pois a minha intenção não era passear em um trem fantasma.
Então surgiu uma grande nuvem negra ao meu redor, e dela soavam gritos, muitos gritos, ensurdecedores. Essa nuvem envolveu o meu corpo e dele sugou a minha alma.