quarta-feira, 19 de agosto de 2009

LIVRO "NEM CÉU, NEM INFERNO" Parte 4

Ao acordar com os tapas um pouco fortes do meu avô na minha face, eu olhei para o lado para ter certeza de que as aranhas estavam ali. Eu não conseguiria fazer outra expedição à cachoeira do pavor.
Recolhi-me juntamente com as aranhas para o quarto e simulei uma languidez para que meus avós me deixassem sozinho. Tranquei a porta e finalmente, com todos os ingredientes, com exceção da lágrima, eu pude terminar de ler as instruções para realizar a magia do “Sumiço”. Pedia para misturar as aranhas, ainda vivas, com os fios de cabelo e a lágrima. Joguei os fios de cabelo dentro do saco de lixo e pensei na amiga que eu deixaria para trás após a magia realizada, a lágrima caiu e fechei o saco.
As palavras em latim eram estranhas, tinha medo de ler errado e acabar fazendo outra magia, mas achei que os ingredientes serviam só para aquele tipo de magia e acabei dizendo em voz alta o que estava escrito:

“Absens Ab Abrupto, Absens Ab Abrupto, Absens Ab Abrupto, Sententia Est, ACTIO!”

*(Ausente de repente, ausente de repente, ausente de repente, esta é a sentença, ação).

Como eu havia pensado a magia não funcionou. Eu sempre tive esperanças de que tudo isso fosse verdade, essas coisas de superstição. Mas acabei de comprovar que nada disso existe.
Quando eu caminhava em direção à porta com o saco na mão para jogá-lo fora, uma neblina tomou conta do meu quarto. De repente eu não enxergava mais nada. Comecei a ficar desesperado, mas fiquei parado no mesmo lugar. Com tanto medo que estava não percebi que o saco de lixo já não estava na minha mão.
Uma mão pesada caiu sobre meus ombros e como se num piscar de olhos, a criatura dona da mão se revelou quando sugou toda a neblina do meu quarto pela boca e ao final soltou um leve arroto. Era uma criatura extremamente grande, com três grandes olhos vermelhos como fogo. Os olhos se espalhavam pelo rosto formando um triângulo. Onde deviam estar as orelhas, eu enxerguei dois buracos. E um corte dividia a cabeça ao meio de orelha a orelha ou de buraco a buraco. Tinha três chifres e não tinha cabelo. As mãos eram bem grandes com grandes unhas. O braço era fino como um galho. Estava vestido com um trapo bem sujo parecido com um saco de estopa. Carregava um colar com uma chave de ouro bem grande.
Ele ficou me olhando durante algum tempo e eu correspondi. Ao mesmo tempo eu sentia curiosidade e medo. Ele parecia ser muito ameaçador, mas nem tanto.
Aos poucos ele falou alguma coisa em uma língua bem diferente e, percebendo que eu não compreendia, ele falou um simpático oi no meu idioma e se apresentou:
-Venho a pedido de Vossa Senhoria. Me chamo Metacarfo e venho de um lugar muito distante. De acordo com o que foi dito à mim, a minha missão é ajudá-lo a sumir pra qualquer lugar bem longe. Correto?
Relutei um pouco em responder, mas devolvi:
-Correto, correto não está. Eu só queria sumir, não precisa ser muito longe. E nem é por tanto tempo assim. Talvez pra alguma ilha no Atlântico ou até mesmo pro Japão, que eu adoro.
-Esse Japão que você disse eu não conheço, mas conheço um lugar que você vai gostar de conhecer.
-É mesmo, qual?
-É um lugar que fica entre o inferno e o céu, assim como o mundo dos humanos.
-Entre o inferno e o céu?
-Sim, um lugar que se chama Terra Vermelha. E que é bem distante daqui.
-Parece legal essa Terra Vermelha. Pode ser então. Eu quero ir pra essa Terra Vermelha.
-Assim se sucederá, mas antes eu preciso saber se você está pronto para entrar na Terra Vermelha.
-Como assim pronto?
-Você vai passar por um teste antes de eu te levar pra Terra Vermelha. Se você passar, nós iremos, do contrário eu terei que te matar para que não conte a ninguém sobre mim e nem a Terra Vermelha.
-Matar?
-Sim, não se preocupe. Todas as vezes que fiz isso, nunca precisei matar ninguém.
-E como é esse teste?
-Pra entrar na Terra Vermelha você precisa do três infortúnios.
-O que são esses três infortúnios?
-Saudade, Ódio e Infelicidade.
-Mas como vou conseguir isso?
-Existe uma maneira simples e rápida de fazer isso.
-Como?
-Você terá que matar uma pessoa que você ama. Assim você vai despertar os três infortúnios dentro de você.
E como num passe de mágica ele desapareceu.

Nota do autor: GOSTARIA DE EXPRESSAR MEU ABSOLUTO CONFORTO E SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO À ESSA PARTE DO LIVRO! =D

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